Aqueles que eram presos pela Inquisição deixavam para trás família, bens e liberdade. No cárcere, as condições, aparentemente melhores do que as das prisões régias e episcopais, nem por isso deixavam de ser más. Imperava a humidade, a falta de luz, de ventilação e de salubridade. Os detritos acumulavam-se durante vários dias, enquanto ratos, pulgas, piolhos e percevejos circulavam pelas instalações e pelos corpos dos detidos, condicionando a saúde física e mental dos presos.
O cárcere era também local de doença e de morte, apesar dos cuidados por parte de médicos, cirurgiões, barbeiros e até de parteiras que assistiam as mulheres cujos partos eram difíceis. Perante este cenário, o stress, as depressões e o desespero eram frequentes e, em alguns casos, chegavam a levar à loucura ou ao suicídio.
Mas no interior do cárcere a vida continuava: dormir, descansar, andar, comer, bordar, coser, fiar, rezar, conversar, meditar, ler e escrever, no caso de alguns, eram atividades que preenchiam os dias passados em reclusão.
A historiadora Isabel Drumond Braga apresenta-nos uma investigação original que nos transporta para o universo sombrio do Santo Ofício, dando-nos a conhecer o dia-a-dia daqueles que eram presos pela Inquisição. Homens e mulheres, gentes do litoral e do interior, pobres e abastados, arrependidos ou pertinazes, mas sempre em busca de um objetivo, muitas vezes não alcançado: a saída rápida do cárcere e o recomeço de uma nova vida.