«Foram precisos três minutos e meio até que se fizesse silêncio e a carrinha parasse finalmente, mesmo à entrada do largo e a tempo de evitar o pior. Quando a primeira porta se abriu, saiu de lá de dentro um cão, meio atordoado. Eu estava do lado oposto da Ford Transit, a tentar algemar o condutor, quando um dos meus colegas me gritou: “Ernano, temos um atingido.” Larguei o homem algemado no chão, dei a volta à carrinha e vi o rapaz pela primeira vez. Era alto, parecia ter uns 16 ou 17 anos. Estava deitado no chão e não havia vestígios de sangue. Ainda estava consciente. Algumas horas depois a televisão anunciava: “Morreu o menor atingido numa perseguição policial em Santo Antão do Tojal.” Fechei os olhos, engoli várias vezes em seco e precisei de suster a respiração. Deixei de me sentir.»