«Durante séculos e séculos, o papel do homem e da mulher esteve bem definido. O homem estava aqui, a mulher ficava ali, trocava-se o menor número de palavras e levava-se a vida para diante. Mas a partir do momento em que a mulher ficou mais parecida com o homem – trabalhadora, independente, assertiva – e o homem mais parecido com a mulher – dedicado aos filhos, disponível para outras actividades caseiras que não a mudança da bilha do gás –, começaram a pisar espaços comuns e a partilhar tarefas. Tudo isto é apresentado como uma coisa bonita (e é) e uma coisa justa (e é), só que o homem não está historicamente preparado para habitar esse novo mundo e fica preso nas redes da selecção natural. As mulheres fazem isso há 130 mil anos. Nós começámos há 40. Por isso, somos uma espécie de dodós domésticos: anafados, mal providos e absurdamente incompetentes. Eu, em minha casa, só recebo ordens. Tenho de fazer isto, e aquilo, e aqueloutro, e mais não sei o quê, tudo ao mesmo tempo e a grande velocidade. É de dar em doido. Os meus antepassados masculinos, ao menos, só tinham de ir lá fora caçar um mamute.»
Este livro nasce de um grito de revolta: porque é que as mulheres hão-de ter o exclusivo das queixinhas sobre a vida doméstica? O que não falta por aí é literatura sobre a sacrificada mulher moderna e a forma heróica como ela conjuga o trabalho e a família. Nada contra. É tudo verdade. Mas e os homens? Alguém acha que o mundo está fácil para nós? Hoje em dia, qualquer homem digno desse nome tem de ganhar a vida, amar a esposa, tratar dos filhos, cuidar da casa, fazer o jantar, baixar a tampa da sanita, e, já agora, telefonar à sogra no seu dia de anos, com voz fofinha. E no entanto, quem fala de nós? Quem derrama uma única lágrima pelo nosso esforço? O sofrimento masculino anda há décadas a ser silenciado. Mas isso acabou. Não mais. Sou um jornalista de 37 anos com três filhos e uma certeza: o homem moderno precisa de mimo, como nunca precisou desde que o primeiro australopiteco pisou o planeta. Precisa de ajuda, de atenção, de carinho. E por isso precisa de um livro como este: orgulhosamente queixinhas, que ninguém é de ferro.