Nos últimos seis anos, empresas e investidores portugueses alienaram ativos num valor superior a 30 mil milhões de euros, mais de 20% do Produto Interno Bruto.
Grandes empresas nacionais, como a PT, EDP, Tranquilidade, ANA ou CTT, deixaram de ser portuguesas. Ainda têm a sede em Portugal, mas o capital passou para o domínio de investidores estrangeiros. Chineses e angolanos são os mais conhecidos, mas também há brasileiros e franceses. Para muitos observadores, era um desfecho inevitável perante a vulnerabilidade financeira do Estado, a fragilidade da banca e dos empresários endividados e a absoluta necessidade de atrair capital à economia. Mas este argumento, ainda que sustentável, não chega para explicar todas as histórias que estão por trás destes negócios:
– A venda da Vivo por 7500 milhões de euros foi o maior negócio em valor realizado por uma empresa portuguesa. A PT não queria vender, o governo também não, mas o preço falou mais alto. O negócio concretizado em 2010 acabou por conduzir, cinco anos mais tarde, à alienação da própria PT Portugal.
– Em 2012, o governo deu ordem à Caixa Geral de Depósitos para alienar as ações na Cimpor, viabilizando a oferta da brasileira Camargo Corrêa. A decisão, tomada em apenas meia hora, foi o golpe final na nossa única multinacional com centro de decisão em Portugal.
– A ANA foi a privatização que mais receita deu ao Estado. Mas em troca dos 3080 milhões de euros, os franceses da Vinci ganharam o monopólio dos aeroportos nacionais por 50 anos e o direito de aumentar as taxas em Lisboa.
Estas são algumas das histórias que a jornalista Ana Suspiro revela em Portugal à Venda, explicando quem são os «novos donos» de Portugal, para que serviram estas operações e quais os valores envolvidos. Para já, os gestores que lideram as maiores companhias são portugueses. Mas quanto tempo vão permanecer nos lugares de topo? E como vão estas grandes empresas reajustar a sua estratégia em resposta aos interesses dos seus atuais proprietários? Perguntas que se impõem numa época de transição.